segunda-feira, 24 de junho de 2013

Resenha do Filme: Faroeste Caboclo.

Finalmente consegui assistir o filme Faroeste Caboclo, dirigido por René Sampaio (anotem esse nome), filmagem da música da banda Legião Urbana, de mesmo nome (a qual para mim junto com Marvin dos Titãs está no topo do rock nacional).  Mas apesar disso, confesso que não tinha boas expectativas quanto ao filme, pois, normalmente como acontece com ótimos livros, ou quadrinhos, sua passagem para as normalmente decepciona, mas confesso que o filme me surpreendeu. Realmente uma homenagem digna a Renato Russo, e sua legião. É uma releitura muito bem feita. Acelerada, dinâmica, que mesmo com final, já conhecido, nos deixa apreensivos pelo por vir. Parabéns a direção do longa. Atrevo-me a colocar Faroeste Caboclo na lista dos 10 melhores filmes nacionais dos últimos anos, junto com Cidade de Deus, Tropa de Elite, O Palhaço, e alguns outros títulos que a memória teima em esquecer (talvez este lista chegue no máximo a 5, infelizmente). A lógica do filme é fiel a música, João de Santo Cristo, é o anti-herói, brilhantemente interpretado por Fabrício Oliveira, destacadíssima a atuação do cara, que interpreta o menino pobre, alijado de tudo, que apesar de tentar ser bom e honesto, o destino cruel parece levá-lo sempre ao crime.  Aí mesmo João cometendo assassinatos cruéis durante toda a trama, estilo Django (bom filme), onde ele estoura a cabeça dos oponentes, e sai tranqüilo e impassível. Todas as mortes são digamos assim, moralmente justificadas, claro que na moral distorcida do olho por olho, dente por dente. Primeiro é o soldado que matou seu pai, por motivo fútil, que João executa. E mais tarde novamente vítima da violência volta a ter sangue nas mãos. João é o cara ferrado, analfabeto, que luta contra todas as perspectivas, para se dar bem na vida, e mesmo tentando ser direito, sendo primo do traficante Pablo, a única pessoa que João tem no mundo, acaba caindo sem querer no crime. Tudo piora quando ao fugir da polícia conhece Maria Lucia, e é claro se apaixona perdidamente. Um Romeu e Julieta moderno, onde a rixa familiar, da lugar, a rixa social, contrapondo ela filha de Senador, e ele filho da miséria e da violência. Um Romance insólito do preto, pobre, ferrado, e da Patricinha. O que nos faz pensar na enorme hipocrisia de nossa sociedade. Santo Cristo tenta lutar pela bela, numa sociedade que não tem lugar pra ele, então apela para sua única arma, a “Winchester 22”. Aí entra Jeremias (ator: Felipe Abib), a figura do Playboy escroto e sem moral, que com os sonhos de Santo Cristo decide acabar. A trama é ótima e nada piegas, e João sempre ferrado, se dando mal do início ao fim. “Violência e estupro de seu corpo”. Mas se vinga, despeja seu ódio sanguinário, e se ferra mais ainda. Aí créditos ao filme que reabilita a imagem da Maria Lúcia, ao transformá-la da Patricinha fútil da música, que trocou João por Jeremias sem motivos aparentes, numa espécie de mártir no filme, sacrificando sua vida e seu corpo, em nome do amado. O que ao contrário de ficar brega torna o filme épico. Quanto a Isis Valverde, ficou bem no papel, e não botou a perder. Somente o final, que achei menos surpreendente que o filme, claro que era previsto, mas não é grandioso, e fantástico como na música. Acredito que o diretor tentou torná-lo mais crível, tirando a torcida, reduzindo o desfecho do drama aos três personagens principais. E quando já estava torcendo para que tudo fosse mudado, Santo Cristo matasse Jeremias, e fugisse com a mocinha, e a coerência que se danasse. Todos morrem como previsto, e a realidade nos constrange, ao vermos que nascido pobre, negro e sem estudos, numa sociedade racista e elitista, por mais que tenha lutado lindamente, João morre sem glória. Talvez tenha sido nisso que Renato Russo pensou ao cantar ao final da música, que João só queria falar pro Presidente, pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer. Fazendo de seu João de Santo Cristo, a síntese de um povo brasileiro que tendo todos seus direitos desrespeitados, e sofrendo todo tipo de violência diariamente, continua lutando como nunca, mas perdendo como sempre. Pelo menos até agora...

Por: FSantanna
25.06.2013